- Stealing Beauty -
Talvez -e que esteja bem claro que esta é apenas uma divagação sem bases comprobatórias- o grande problema do cinema mainstream brasileiro seja a falta de roteiros que, além de terem algum valor narrativo básico, consigam dialogar bem o grande público. Não que esta porção do cinema nacional ande mal das pernas, já que as comédias da Globo Filmes fizeram sucesso estrondoso em 2013, mas nem só de humor se faz uma cinematografia, e para além disso, ainda existem espectadores sãos que sonham com um produto genuinamente brasileiro que não derive de novela. Ou seja, por ser material tão raro, é muito frustrante ver um roteiro que, mesmo não sendo propriamente bom, poderia ter rendido um filme muito melhor. Confia em Mim pode ser encaixado nesta categoria; o roteiro de Fábio Danesi não nega suas raízes televisivas, já que o rapaz está por trás do texto de seriados nacionais como O Negócio e Julie e os Fantasmas -ambos também dirigidos por Tikhomiroff-, mas existe um visível desejo de injetar importância no diálogo e fazer com que ele seja digno do tamanho da tela que preenche, e é exatamente quando essa responsabilidade deixa de ser do roteirista, que os muitos problemas começam a surgir.
A mais aparente das questões está nas fraquíssimas performances de Fernanda Machado e Mateus Solano. Ela, nunca obteve grande reconhecimento por suas modestas capacidades como atriz, e ele, recentemente afamado pelo papel do vilão/mocinho/panfleto de aceitação que interpretou na última novela das 9, parece estar aqui para uma corriqueira manutenção de sua imagem nos holofotes. Fato é que nenhum dos dois sabe bem que formato dar a suas personagens. Ela é uma aspirante a chef de cozinha que nunca mostra verdadeira paixão pela comida, ou por qualquer coisa que seja. Ele é um golpista que atrai mulheres indefesas e as enreda em tramas elaboradas para roubar seu dinheiro, mas que nem mesmo quando se revela perigoso consegue soar realmente ameaçador. Entretanto, uma porção da culpa pela quase nula relação que criamos com estas pessoas recai sobre Tikhomiroff, e sua direção vergonhosamente preguiçosa, e isto nada tem que ver com seu background em televisão. A grande problemática está no fato de não haver tempo ou espaço para que a trama respire e mostre a que veio. Somos jogados de sequência para sequência, num convívio forçado com estas pessoas a quem não fomos devidamente apresentados, e por quem obviamente não sentimos nada. E assim Confia em Mim vai, se arrastando através de um punhado de tempos mortos e cenas de tensão bastante interessantes, mas que não são suficientes para dar ao filme o suspense que ele acredita ter.
Confia em Mim (★★)
Michel Tikhomiroff, Brasil, 2014
IMDB ROTTEN KRITZ FILMOW