O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro


- O mito do herói americano -

A quantidade de atração ou repulsa que um filme como O Espetacular Homem-Aranha 2 pode causar, está intrinsecamente conectada com a quantidade de crença que o espectador ainda tem na encenação do absurdo, no cinema de aventura, e especialmente em suas memórias afetivas de um tempo em que o espetáculo compreendia seu valor artístico. Sim, se trata de um filme cheio de comicidade forçada, ação megalomaníaca, e momentos que não podem ser definidos de outra maneira que não brega, mas que percebe todos esses pontos como pequenas peças de um grande mosaico afetivo. Marc Webb fez um filme que poderia ter sido grande sucesso de público em 1994, e esse é um grande elogio para um produto que se acredita blockbuster.

A recepção, no entanto, pode ser injustamente fria, por conta do recente -e péssimo- costume de se festejar o super-herói gélido e sombrio como o difundido por Christopher Nolan em seus competentes, mas absolutamente estéreis filmes do Batman. É claro que devem ser guardadas as devidas diferenças temáticas e estéticas entre esses dois personagens, mas também é fato que ambos vivem o conflito de ser super e se imiscuir da vida de estranhos, mas falando exclusivamente de cinema, enquanto Nolan envolve seu personagem num manto negro de seriedade e auto importância, o Homem-Aranha (neste caso muito mais o de Webb que o de Sam Raimi) se deixa absorver pela geografia de sua cidade, se tornando parte dela, pulsando junto com ela, e não observando-a como onipotência. Mesmo amplamente digitalizada e retocada, a Nova York do Aranha é das mais bonitas a ser brutalizada por vilões infantiloides que já vi numa tela de cinema.

Outro ponto que parece fugir à lógica do herói contemporâneo, e este é particularmente funcional aqui, já que no fim das contas a questão humana é das coisas mais interessantes que a personagem tem a oferecer, é como o romance entre Peter Parker e Gwen Stacy toma para si grande parte do foco, sem jamais soar invasivo. Se não é um filme de amor, ele é certamente um filme sobre a falta de lógica deste sentimento; inclusive com todos os melhores diálogos da história, sejam eles cômicos ou dramáticos, sendo travados em timing perfeito por Garfield e Stone. Esta última e seus cabelos loiros, em minha humilde opinião, rendem o close mais bonito de Hollywood hoje em dia, Marion Cotillard que me perdoe.

Mesmo sendo quase capitular, por acreditar que todo espectador vai chegar aqui tendo plena consciência dos conflitos existentes no volume anterior, e não tendo a menor vergonha de deixar enormes ganchos para o próximo, existe uma compreensão tão ampla da diversão que a falha -mesmo que calculada, é verdade- acarreta, que só por isso o filme já merece ser reconhecido como das melhores diversões que um super-herói já ofereceu, nesses tempos em que o cinema se tornou a casa deles.

O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (★★★½)
Marc Webb, Estados Unidos, 2014

IMDB ROTTEN KRITZ FILMOW