Será Que?




- Old Friends -

Caso existisse uma cartilha para listar os mais cansados e requentados clichês da “comédia romântica indie”, Será Que? teria grande capacidade de preencher todos os requisitos. Desde 500 Dias Com Ela(que inclusive tornou-se exemplo fundamental desde tipo de cinema), um filme não conseguia ser tão bem sucedido no esforço para balancear sua vontade de ser simpático e esperto, sempre acompanhado de uma claramente falsa ponderação sobre a efemeridade dos relacionamentos no século 21 (talvez o que melhor tenha se aproximado disso foi o agradável Celeste e Jesse Para Sempre, mas que ainda assim se comportava muito mais como uma comédia de recasamento moderna, do que a rom-com como a conhecemos).

500 Dias conseguia ser um filme tão eficiente no que se propunha, porque desprezava totalmente o compromisso com a cronologia, e a progressão do sentimento daquelas personagens era oferecido ao público de forma fragmentada, fácil de ser absorvida a qualquer velocidade; enquanto todas as suas cópias acreditavam, erroneamente, que a fofura e idiotia de personagens adultos se comportando como adolescentes era suficiente para fazer o público cair de amores por eles. Nesse sentido, Será Que? não é propriamente original, mas guarda certo frescor ao mostrar que as falhas daquelas personagens não vem particularmente de um jogo de aparências, mas de uma personalidade muito provavelmente construída através desse tipo de conceito cansado sobre o que é amor, o que é amizade, e o que existe no limbo entre essas denominações.

À parte isso, o que vemos é uma cópia fiel de qualquer outro filme parecido: Na zona mais animada de uma grande cidade, garoto de coração partido conhece garota comprometida que trabalha com qualquer coisa relacionada à arte, os dois tem diálogos cheios de referências pop e algum punhado de escatologia, a amizade se torna amor e as coisas se complicam um pouco; tudo isso enquanto músicas de indie rock se amontoam incessantemente filme adentro. Tendo um roteiro tão óbvio em mãos (que neste caso, diga-se de passagem, é baseado numa peça chamada Toothpaste and Cigars), os outros aspectos acabam precisando de um polimento algo mais específico, e as coisas acabam mal.

Para começo de conversa, o diretor Michael Dowse ficou relativamente conhecido por fazer filmes de comédia pastelão sobre personagens absolutamente idiotas, mas que funcionavam muito bem, como o recente Os Brutamontes; ou seja, não parece ser a pessoa mais indicada para tratar com material tão delicado. No fim das contas sua direção mal se faz notar, o que não é propriamente um elogio, levando em consideração que os atores, e mais especificamente Daniel Radcliffe, parecem não saber muito bem o que fazer de seus personagens. Enquanto Zoe Kazan prova ser das artistas mais subestimadas e subaproveitadas de Hollywood, o inglês só reafirma que, mesmo não sendo mau ator, ele ainda tem um longo caminho a trilhar caso queira deixar de ser apenas um rosto relativamente bonito. Não que a culpa seja dele, mas um ator melhor treinado poderia ter transformado Será Que? num filme muito mais curioso. Se este foi tão divulgado como uma versão moderna de Harry & Sally, eu diria que é melhor ver o original.

Será Que? (★★★)
Michael Dowse, Canadá/Estados Unidos, 2013
IMDB ROTTEN KRITZ FILMOW