Aliança do Crime chegou ao Brasil já com bastante circulação no exterior, principalmente nos
EUA, seu país de origem, onde estreou em setembro. Centrado nos anos 70 e 80 em Boston, o filme
acompanha James “Whitey” Bulger, famoso criminoso da chamada “máfia irlandesa”, e John
Connoly, detetive do FBI que crescera com ele no sul da cidade e que o recruta como informante na
guerra contra a máfia italiano americana. O enigmático título original, herdado do livro que relata o
caso, pode ser uma referência à “blasfêmia” (à Justiça) que a aliança representa. O filme tem sido
elogiado principalmente pela atuação de Johnny Depp. Para assumir o papel de Bulger, ele é
coberto por uma máscara de rugas, calvície e grandes olhos azuis, que hora contribuem para a
presença aterrorizante do personagem, com toda a sua frieza e violência calculada, hora assustam
pela composição de uma maquiagem tão carregada que torna Bulger notavelmente diferente das
outras pessoas, menos humano, mais monstruoso. Infelizmente, todo esse artifício disputa nossa
atenção com a atuação fina de Depp, evocando inadequadamente seus papéis mais caricatos em sua
parceria com Tim Burton e na franquia Piratas do Caribe.
Com um extenso elenco que conta com nomes como Benedict Cumberbatch e Kevin Bacon, é triste
percebê-los quase todos subaproveitados no pouco tempo de tela de que dispõem, limitados a
atuações automatizadas e quase inexpressivas. Destaco apenas Julianne Nicholson, que está
excelente no papel de Marianne Connoly. Joel Edgerton consegue entregar um interessante John
Connoly que balança entre o ingênuo e o dissimulado, mas ao contracenar com Depp,
Cumberbatch, Bacon ou Nicholson, é facilmente ofuscado. É decepcionante que num momento
crucial da trama, seu último encontro com Bulger, os dois homens não mostrem o rosto. Contudo, a
considerar que as atuações mais efusivas de Peter Sarsgaard e Dakota Johnson soam exageradas,
beirando o patético em seus momentos mais exaltados, se percebe que Aliança do Crime é tão frio e
exangue que não deixa espaço para emoção alguma.
Não bastasse o filme relatar uma história verídica, ele revela seus principais pontos narrativos nos
primeiros minutos, nas primeiras linhas de diálogo. Alternam-se as cenas da vida de Bulger com o
interrogatório de seus capangas durante a investigação de John Connoly, a começar pela boa
surpresa do elenco, Jesse Plemons no papel de Kevin Weeks – personagem que dá início à narrativa
e desaparece aos poucos por trás de uma presença robótica. Dessa forma, sua frieza, roteiro básico e
técnica e estética sem qualquer personalidade põem em cheque o que Aliança do Crime se propõe a
proporcionar ao espectador. Sem um pingo de inventividade, o filme beira o entediante. As únicas
cenas genuinamente interessantes são aquelas com Bulger e seus familiares, seja a mãe, o filho ou o
irmão, que não parecem se propor a “humanizá-lo”, tornando-o ainda mais amedrontador.
Aliança do Crime (★★)
Scott Cooper, Estados Unidos/Reino Unido, 2015
IMDB ROTTEN FILMOW
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