- Por onde andará Jack Ryan? -
O thriller de espionagem é um gênero quase tão antigo quanto o próprio cinema, e justamente por ter sido criado a partir de uma tradição tão rígida quanto a do cinema noir, por exemplo, pouco se desenvolveu em estrutura ao longo dos anos. Não importa quão mirabolantes fossem as tramas e reviravoltas em que os heróis se viam inseridos, sempre estaríamos frente à um homem, munido de sua força ou inteligência para antingir um objetivo, e alguém com um plano muito maquiavélico em mente tentando atrapalhar isso. Por essas razões, os filmes hollywoodianos de espionagem, que em boa parte foram engolidos pelo cinema de ação e perderam sua essência de mistério, são hoje como qualquer outro trabalho que saia daquela região; de cada quinze, um ou dois tem algo verdadeiramente novo, curioso, ou instigante para oferecer, o que infelizmente não é o caso de Operação Sombra – Jack Ryan.
Inspirado no personagem homônimo da série best-seller de Tom Clancy (e para minha surpresa, o quinto de uma série de filmes que revolvem a seu redor), Operação Sombra acompanha a jornada de Ryan, estudante de economia que, movido pelo ataque às torres gêmeas, resolve servir o exército americano, tem sua carreira militar abreviada por uma lesão, e finalmente acha seu lugar como analista da CIA. Todo este desenrolar, que aparentemente poderia por si só render um filme repleto de inflexões morais, usa pouco menos de 10 minutos da duração do longa de Kenneth Branagh, o que prova como nem mesmo o mais shakespeariano dos diretores consegue dialogar com estruturas corporativas.
A escolha de Branagh, inclusive, jamais se justifica, primeiro porque à julgar por seu trabalho em Thor (que eu particularmente gosto muito) o diretor não tem tato para comandar ação, as cenas em questão são totalmente repicadas e perdidas num ritmo histérico que nada adiciona ao filme, e segundo porque o drama, onde ele teria algo a oferecer, é relegado a uns poucos momentos de interação entre Chris Pine e Keira Knightley, e soa tão perdido em meio à confusão quanto o jargão economês sempre que alguém se refere à dinheiro, ou a pose de Kevin Costner para esbravejar palavras de comando à seus subalternos na CIA. Aliás, deve ser por estar tão perdido que o filme insiste em localizar suas sequencias com cartelas ridiculamente desnecessárias que nos avisam, frente à Estátua da Liberdade ou ao Kremlin, que estamos em Nova York ou Moscou. Perdido nesse cruzamento entre thriller cerebral e ação dramática, Operação Sombra termina sendo apenas muito bobo.
Kenneth Branagh, Estados Unidos, 2014
IMDB ROTTEN KRITZ FILMOW