A Gangue


- Sounds of Silence -

A Gangue (ou A Tribo, numa tradução muito mais rica), é mais ou menos um milagre. Talvez o termo seja algo grandioso demais, mas o que Myroslav Slaboshpytskiy alcança é tão potente, em tantos aspectos, que ignorar o valor de sua criação não é realmente uma opção viável. Ao escolher contar sua história inteiramente em linguagem de sinais, e assim manter quase todo o público alheio à oralidade do filme, ele confia plenamente no que é visto, como material suficiente para que se absorvam os conceitos e desdobramentos narrativos da trama, o que efetivamente acontece, mas fazendo necessário que se pontue a obviedade de sua trama. O conto sobre o jovem que se envolve com um grupo perigoso, e mais tarde se vê confrontado pelas consequências de suas escolhas em relação aos parceiros é tão velho e resignificado quanto qualquer banalidade hollywoodiana, e certamente por isso é uma escolha compreensível para servir como fundação de um filme “mudo”, onde a conexão do personagem com a história flui muito melhor quando os temas já fazem parte do imaginário; mas para além desse ponto, existe um esmero gigantesco na construção imagética do filme, que potencializa todos os aspectos mais necessários.

Mais especificamente, por ser um filme onde não há palavras, mas as mãos escrevem no ar de forma intensa e constante, e desse modo claramente chamam muita atenção para si, o trabalho fotográfico de Valentyn Vasyanovych prefere as paisagens profundas e vazias, combinadas com os longos planos-sequência; de certa maneira há uma noção teatral, de estar frente a essas pessoas enquanto elas trabalham em suas questões, ao mesmo tempo que não há nada mais cinematográfico do que ser fantasmagoricamente conduzido por corredores desertos aguardando a tragédia no dobra de uma esquina. Junto disso há o desenho de som, que nos dispõe nessa situação violenta de maneira completamente diversa daquela dos personagens; assim como num suspense hitchcockeano, o espectador está quase sempre ciente do perigo antes daqueles que vão sofrê-lo, simplesmente por podes escutar seus alertas. Não é uma experiência única, mas certamente inquietante de maneira muito original.

- Este texto é parte da cobertura do 7º Janela Internacional de Cinema do Recife.

A Gangue (★★★★)
Myroslav Slaboshpytskiy, Ucrânia, 2014

IMDB ROTTEN KRITZ FILMOW