- Canção do Exílio -
O cinema de Marcelo Pedroso, ainda que sempre interessado num diálogo estético e político muito direto com o público, nunca foi propriamente de fácil absorção. Ainda quando se apresentavam de maneira muito menos rebuscada, em filmes como Pacific e 15 Centavos, as construções narrativas do diretor sempre geravam um sem número de questionamentos quanto a sua validade e discurso, o que é maravilhoso para o debate acadêmico, mas deixa o grande público algo distante de sua verdadeira intenção. No entanto, se Brasil S/A chega como o filme mais estrutural, visual e discursivamente complexo da obra de Pedroso, ele também soa como o primeiro a não saber como se comunicar propriamente.
Num grande mosaico sobre progresso e suas violentas consequências, o filme costura críticas a uma classe média idiotizada e exploradora, comentários sobre luta de classes e resquícios da cultura escravista, e alegorias que muito remetem às grandes ficções científicas do cinema americano. Se em teoria é um conceito muito poderoso, a execução pontua esses aspectos de forma tão esparsa e fragmentada, que a primeira sensação é de estar vendo uma compilação de dois ou três curtas que seriam primorosos se estivessem separados, ou um longa muito curto para abarcar tudo aquilo que pretende. A questão aqui não é apontar um momento no qual Pedroso se equivoca, porque Brasil S/A é visivelmente pensado de maneira muito específica e segura, mas sim perceber que, provavelmente pela primeira vez, sua rede de discussões tornou-se um emaranhado.
- Este texto é parte da cobertura do 7º Janela Internacional de Cinema do Recife.
Brasil S/A (★★★)
Marcelo Pedroso, Brasil, 2014
IMDB ROTTEN KRITZ FILMOW