As Tartarugas Ninja


- Uma memória ruim -

Restou pouca coisa das memórias audiovisuais da minha infância. Pokemon e Digimon permanecem um pouco mais frescos na lembrança, por já estar um pouco maior quando os acompanhava, mas daí pra trás tenho no máximo lampejos de me divertir bastante vendo TV Colosso, Power Rangers e Shurato. As Tartarugas Ninja, curiosamente, sempre me foram mais familiares através de seu jogo para Super Nintendo, no qual eu investia todas as moedas quando ia ao “playtime” na rua de casa. Os desenhos e os filmes vinham quase como complementos da ação livre que o jogo proporcionava, e talvez por isso eu tenho ficado alheio à mitologia e o culto que rodeia os bichos mutantes. No entanto, ver alguém bagunçar aquela estrutura tão delicada que é uma memória de infância, pervertendo seus moldes originais de maneira tão brusca é sempre frustrante, para dizer o mínimo. E mesmo que não seja péssimo, como havia de se esperar dadas as credenciais por trás da produção, essa modernização nas aventuras das Tartarugas Ninja também passa muito, muito longe de ser um filme minimamente bom.

Não é como se isso fosse surpreendente, dadas as credenciais envolvidas. Além da produção do sempre duvidoso Michael Bay, o filme foi dirigido por Jonathan Liebesman, que acumula créditos pelos pavorosos Batalha de Los Angeles, Fúria de Titãs 2, além do desnecessário reboot do Massacre da Serra Elétrica. Liebesman e Bay parecem ter sido feitos um para o outros, em seus devaneios pirotécnicos e falta de compromisso com o resto dos aspectos do filme. Se existe verdadeiro esmero no trato com os efeitos especiais, que garante, por exemplo, uma incrível desenvoltura das tartarugas e seu mestre rato, o mesmo não pode se dizer das performances do resto do elenco. Além de serem estereótipos do mais raso escalão, boa parte dos atores não parece muito interessada nas inconsistências do roteiro, e se arrastam pelo filme no piloto automático. O mais gritante, no entanto, é a performance de Megan Fox, que consegue ser mais morta e inexpressiva que os bichos computadorizados; muito a exemplo do que ela fazia na franquia Transformers. E numa analogia que vem bem a calhar, trocando os robôs gigantes por animais mutantes, a sensação é a mesma de estar vendo um daqueles intermináveis espetáculos que Bay já oferece há muitos anos. Dispensável até dizer chega.

As Tartarugas Ninja (★½)
Jonathan Liebesman, Austrália/Estados Unidos, 2014

IMDB ROTTEN KRITZ FILMOW