Bling Ring: A Gangue de Hollywood



Christian Louboutin é um estilista francês, conhecido por seus sapatos impecavelmente modelados, e também por sua marca registrada, o indispensável solado vermelho em todos os modelos. O sobrenome Louboutin, para o mundo da moda e aqueles que a consomem avidamente, é tão imponente e luxuoso quanto Chanel, Prada, Versace ou Dior, e obviamente, não é destinado a um público muito grande. A diversão de Sofia Coppola neste Bling Ring – A Gangue de Hollywood, é inverter a moral dos contos de justiceiro, e fazer com que um Louboutin possa ser um bem de todos que tenham a autoconfiança para calçá-lo, pouco importando se foi conseguido de maneira honesta. Baseado em um artigo da Vanity Fair, por sua vez baseado num caso real que movimentou o high society de Los Angeles entre 2008 e 2009, Bling Ring é um exercício de estilo que trata sobre futilidade e falta de propósito; não é difícil confundir crítica com apreço.

No período citado, um grupo de adolescentes viciados em celebridade e alta costura, protagonizou uma série de furtos às residências de Paris Hilton, Lindsay Lohan, Audrina Patridge entre outros, com o único propósito de roubar alguns de seus pertences e dinheiro. Levando em consideração a quantidade de pertences, é natural que por algum tempo ninguém tivesse dado falta de nada, mas o esquema, obviamente, estava fadado ao fracasso. O trunfo de Coppola está, primeiramente, em fazer um relato quase naturalista dessa história, que de tão absurda poderia ser pura ficção. Existe pouco aprofundamento nos personagens ou desdobramentos narrativos, e isso seria um problema muito sério, não fossem os códigos que ela oferece para que aquelas pessoas sejam compreendidas.


Num esforço colaborativo com os atores, especialmente os novatos Katie Chang e Israel Broussard, Sofia é definitiva em dizer, apenas com sua câmera e meia dúzia de palavras, quem é o líder, quem está sendo influenciado, e as razões de ambos para estarem ali. Broussard é o fio condutor da narrativa, e tem de longe a melhor performance do longa; ele não é inocente, mas se deixa influenciar pelo comportamento absolutamente sociopático da nova amiga, apenas por finalmente sentir que pertence à algum grupo; é o velho drama adolescente, com uma carga pesada de anabolizantes. Porém nem tudo são flores e roupas caras na provocação da cineasta; apesar de ser bastante clara sobre a observação estéril a que se pretende, Sofia parece não saber controlar o ritmo de seu filme. Do momento em que a primeira escolha equivocada é feita, o filme embarca numa repetitiva sequencia de amoralidade e deslumbramento que, não fosse tão episódica, seria bem mais cativante; depois do terceiro roubo seguido a atenção se torna mais complicada de sustentar.

De certa maneira, Bling Ring é uma atualização daquilo que Sofia explorava em seu primeiro trabalho, As Virgens Suicidas, onde um grupo de irmãs superprotegidas eram tratadas quase como celebridades, justamente por serem tão pouco vistas. Mas agora o oposto acontece, o grupo de jovens é tão mentalmente fragilizado quanto aquelas garotas, mas desemboca suas frustrações num brutal niilismo, e para continuar com os paralelos, esses jovens são, talvez, o outro lado do espelho de personagens como o de Um Lugar Qualquer, famosos que vivem tediosamente em quartos de hotel.Os momentos em que a mãe da personagem de Emma Watson fala efusivamente para as filhas sobre os preceitos aprendidos em “O Segredo” ou sobre como Angelina Jolie é um exemplo de pessoa a ser seguida são garantia de risos rasgados, mas deixam um bom questionamento à longo prazo, especialmente quando uma das garotas rebate o questionamento da mãe sobre a maior qualidade da citada atriz com um “o marido”.

Como é sabido, subcelebridades também tem mães e pais, e talvez este seja um bom lugar para entender como surge uma Kim Kardashian ou uma Andressa Urach. É irônico que a ruína do grupo tenha sido justamente sua excessiva exposição; depois de cada “compra” eles alardeavam seu sucesso em festas e no Facebook, a polícia nem teve tanto trabalho. A maravilhosa sequência onde Watson aproveita o mais inoportuno espaço de mídia para se autopromover, é a martelada final para se compreender esse mundo de sapatos e cocaína, ou não.


Bling Ring: A Gangue de Hollywood (★★★½)
Sofia Coppola, Estados Unidos, 2013

IMDB ROTTEN KRITZ FILMOW